A Cultura da Participação, escrito pelo professor do Programa de Telecomunicações Interativas da Universidade de Nova York, Clay Shirky, foi um dos livros que me fez apaixonar ainda mais pela profissão que escolhi. Escrito por um dos maiores pensadores da revolução da internet, o livro introduz conceitos e apresenta exemplos que reforçam o poder das mídias sociais como ferramenta de transformação do nosso comportamento e da nossa sociedade.
Clay defende uma visão humanista das novas tecnologias de comunicação. Logo no começo do livro somos apresentados ao que ele chama de “excedente cognitivo” como a soma de tempos, energia e talentos das pessoas, que permite que usuários antes isolados possam se reunir em grandes transformações. Logo, percebemos que a tecnologia possibilita essas transformações, mas não pode é capaz de causá-las apenas.
Mas apenas o tempo livre não é suficiente para que indivíduos se reúnam e redes e em torno de causas em comum. A partir do tempo livre, a fusão entre três elementos – meios, motivos e oportunidades – de fato resultarão em excedente cognitivo como um bem social geral.
Os novos meios de comunicação estão nos fazendo repensar o conceito de mídia – de algo que consumidos para algo que usamos para nos comunicar, construir e mobilizar em causas coletivas. Essa nova mídia agrega valor aos usuários ao combiná-los; valor que será concretizado em transformações no mundo real.
Nossas motivações para nos unirmos em causas e projetos em comum não estão ligadas ao mercado, nem à benefícios pessoais. Aqui, o amor pelo que se faz está acima do dinheiro, e as recompensas satisfazem nossos desejos intrínsecos de participação, competência e pertencimento a um grupo.
Assim, nossas motivações intrínsecas pessoais e nossas motivações sociais se reforçam, numa espécie de rede de retroalimentação, que gera valor pessoal – o sentimento de participação , coletivo – do grupo que trabalha junto; e até público, citando como exemplo o Linux, criado por um grupo de pessoas com interesses e motivações em comum e hoje é usufruído por milhões de pessoas em todo o mundo.
Usando nosso excedente cognitivo como um bem social, podemos gerar oportunidades uns para os outros. É um comportamento novo possibilitado pela tecnologia, mas criado pelos usuários. Diante da oportunidade de aprender, contribuir e participar cada vez mais, os membros podem tornar-se melhores naquilo que amam, e tendem a permanecer na rede. Para Shirky, isso prova que os seres humanos nem sempre agem por interesse próprio, e que as transações em si tem um componente emocional.
Por fim, o livro destaca que todo esse novo comportamento social permitido pela tecnologia não é um fim, mas um processo em andamento, pois “quanto maior a oportunidade oferecida pelas novas ferramentas, menos completamente alguém consegue projetar o futuro a partir da formação anterior da sociedade.” Assim, dizemos que a capacidade das ferramentas não é capaz de determinar suas funções máximas, mas a participação do usuário, como membro de um grupo, pode ampliar as possibilidades da tecnologia.
Clay não se coloca como um profeta. Ele faz uma análise do cenário de mídia atual e destaca sua diversidade e imprevisibilidade. Um tema de difícil compreensão, que ainda instiga os principais teóricos da comunicação digital atual. A Cultura da Participação é um livro que acrescenta muito aos estudantes de comunicação, ao colocar as pessoas e seus comportamentos no centro da revolução digital.